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Lygia Pape: o encontro com o poema

Autor: Márcia Ribeiro
Direitos reservados

"Acho que criar, inventar é correr riscos. Ter coragem de enfrentar o risco da invenção é muito importante. É algo que envolve sempre um sacrifício, um esforço, um sofrimento. Não me interessa realizar uma obra que dá certo e depois fazer dez outras iguais para atender ao mercado e ganhar dinheiro". (Lygia Pape, 1998, p. 23)
O discurso de Lygia Pape sempre foi poético. Sua obra, de amplo sentido / impulso investigativo é movida pela coragem, audácia, carregada de um certo instinto irônico e de denúncia. Sua intenção sempre esteve além das condições mercadológicas impostas pelas instituições culturais, o seu ludismo e a sua liberdade particulares podiam ser vistos pelo modo com que sua obra estava disposta, desde o início, a experimentar com uma ampla gama de linguagens e formatos.
Leia mais: Revista Critério
Gotan Project: En el 2006, parece una obviedad. Y sin embargo, apenas cinco años atrás ¿quién hubiera anunciado el éxito rotundo de Gotan Project?
http://www.gotanproject.com/






Sonantes é um trabalho produzido pelos selos Instituto e Candeeiro e representado internacionalmente pela Urban Jungle Records.


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“A dança” de H. Matisse



“Meu sonho é chegar a uma arte plena de equilíbrio, de pureza e serenidade...” Matisse

Gênio, poeta interrogativo e inquieto, Matisse é uma personalidade eterna na História da Arte. Certa vez disse que pretendia pintar no “estado de graça de um selvagem ou de uma criança”, superando, assim, sua formação acadêmica e tradicional. Sua pintura com o passar dos anos tornou-se cada vez mais simplificada, seus recursos básicos passaram a ser as cores e as linhas que explodindo em formas densas, tornaram-se livres de quaisquer imposições acadêmicas, muito mais atenta à composição, do que com o tema propriamente dito.

Observar o quadro “A dança” é pensar neste temperamento livre, alegre e cheio de vida de Matisse. Sua pintura não imita o objeto a ser representado, mas “deforma-o” objetivamente, seguindo as exigências da composição, de estrutura e de cores. E o objeto nesta obra, tão pleno de significados, motiva o ritmo, a identificação íntima do artista com sua obra. Todos os aspectos formais de cor, luz, espaço, harmonia e as figuras, bastante simplificadas, encontram-se absolutamente unificados.

“O quadro tem um significado mítico-cósmico: o solo é o horizonte terrestre, a curva do mundo; o céu tem a profundidade do azul-turquesa dos espaços interestelares; as figuras dançam como gigantes entre a terra e o firmamento. Ao Cubismo que analisa racionalmente o objeto, Matisse contrapõe a intuição sintética do todo. É este precisamente o quadro da síntese, da máxima complexidade expressa com a máxima simplicidade. É a síntese das artes. A música e a poesia confluem na pintura, e a pintura é concebida como uma arquitetura de elementos em tensão no espaço aberto; é síntese entre a representação e a decoração, símbolo e realidade corpórea, entre o volume, a linha e cor. (...) Tal era sua intenção; prova-o uma carta, em que afirma ter procurado "para o céu um belo azul, o mais azul dos azuis (a superfície é pintada até a saturação, vale dizer, até um pouco em que finalmente emerge o azul, a idéia do azul absoluto), e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos. [...] " (Argan, Giulio Carlo - Arte Moderna, São Paulo, 1992, p. 259).

O uso da força expressiva das cores puras e, sobretudo, a profundidade do espaço, sentenciam que é a qualidade essencial do objeto que importa e não sua superficial aparência real. Nesta tela fica claro observar uma ordem cuidadosamente elaborada pelo artista, que antecede a pintura, ou seja, antes de iniciar uma obra, ele já desenvolvera uma visão completa do conjunto.

No texto O Credo Criativo de Paul Klee é traçado um paralelo interessante do espectador com uma obra de arte: “Na obra de arte existem caminhos preparados para os olhos do espectador, olhos que tateiam como um animal pastando. (Na música – como se sabe – há canais de audição que levam ao ouvido; no teatro, ambas, audição e visão, são utilizadas). A obra pictórica surgiu do movimento; ela mesma é movimento registrado e é assimilada por movimento (pelos músculos dos olhos). (...)”.

Em “A dança” Matisse atinge um grande aprofundamento de sua visão do mundo e consegue ser inteiramente honesto com o espectador, não reservando para ele detalhes considerados supérfluos no seu entendimento. Confere a composição apenas o que é essencial, em sua estrutura concebida como uma teia de elementos em realidade corpórea (as imagens dos corpos) em pleno espaço aberto, impregnadas de cor, emoção estética, harmonia, equilíbrio e força vital.


Autor: Márcia Café (direitos reservados)

Referências bibliográficas

- KLEE, Paul. O Credo Criativo, 1920.
- MATISSE, Henri. Escritos e conversas sobre arte, 1908.
- ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras,
1992.
- COSTA, Cristina. Questões de Arte: o belo, a percepção estética e o fazer
artístico. São Paulo: Moderna, 2004.
- Ficha - Acervo: Roteiros de Visita. MAC USP, 2004.

O telefone celular – objeto de consumo como realização pessoal


"A partir de análise feita em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro Márcia aborda questões como consumo, fetiche e moda em um ousado ensaio" (publicado em www.artecidadania.gov.br)
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O uso do telefone celular está cada vez mais presente em nosso cotidiano, não há como negar. Considerado um dos grandes ícones da tecnologia moderna, título garantido em grande parte por mérito da mídia, deixou de ser somente um meio de comunicação entre as pessoas, para tornar-se o objeto de consumo mais cobiçado dos últimos tempos (principalmente nas grandes metrópoles mundiais).

Seu significado adquiriu um valor mais simbólico que material, numa esfera mais ampla, cercada de status aliado ao estilo da vida moderna conquistado pelas classes com maior poder aquisitivo. Seria quase ingênuo pensar no consumo, de uma maneira geral, como um fenômeno meramente econômico. Sua abrangência é muito mais cultural repleta de significados, um objeto de consumo que possui muito mais sedução, envolvimento, ilusão, características mais tentadoras que seu próprio uso. A necessidade que o consumo satisfaz, pode-se assim dizer, é em grande parte muito mais simbólica que prática e é essa a linha de pensamento referida nesse breve ensaio.

O objeto em questão é o uso do celular em comunidades carentes, tomando como base o morro Pavão-Pavãozinho, favela localizada na zona sul do Rio de Janeiro. Nesta comunidade, como em muitas, o uso do celular é indiscutivelmente a forma mais comum de comunicação entre os moradores. Embora estejamos vivendo um momento em que se discute a crise nas penitenciárias do Brasil (deflagrada pela violência recente em São Paulo) tendo o celular como grande vilão dessa história, não trataremos dessa questão, mas sim do perfil de pessoas comuns, moradores e estudantes da comunidade que o utilizam no seu dia a dia.

Em primeiro lugar o destaque da trajetória do telefone celular, como já citado, deve-se a abordagem feita por campanhas publicitárias milionárias, que transferem o seu valor de uso como simples utilitário a objeto de consumo de extremo desejo. Segundo Veblen na obra intitulada A Teoria da Classe Ociosa, o consumo é um fato social, pois constrói um sistema de representações compartilhadas socialmente num sentido externo, extenso e coercivo. O ócio (grande parte dele ocasionado pelo desemprego aliado ao assédio do tráfico de drogas) talvez seja mais observado nessas comunidades e, neste caso, cede lugar ao consumo como principal forma de distinção social. O consumo aqui não se trata apenas da aquisição de um bem, mas de uma realização individual. O telefone celular deixou de ser um objeto de acesso restrito às classes mais ricas e, conseqüentemente, seu uso tornou-se mais popular. O pensamento não é mais a lógica da racionalidade “Eu preciso” e sim “Eu mereço” a receita do capitalismo que vende a lógica da necessidade.

O que pude observar como professora dentro da comunidade em questão, foi a existência de um sedutor poder envolvendo o aparelho celular e seu significado. Um fetiche, uma auto-afirmação onde pessoas descobrem-se maravilhadas e hipnotizadas por um objeto de consumo de última geração com câmeras embutidas, e-mail, toques polifônicos, torpedos, mp3, etc.

[…] nem toda forma de consumo é interiorização dos valores de outras classes. O consumo pode falar e fala aos setores populares de suas justas aspirações a uma vida mais digna. Nem toda busca de ascensão social é arrivismo; ela pode ser também uma forma de protesto e expressão de certos direitos elementares [...] - MARTIN-BARBERO, Jesús.

Mas qual é verdadeiramente o significado atribuído ao celular? É aqui que entra em cena o famoso discurso publicitário articulando idéias de consumo de massa e segmentação, seduzindo as classes mais baixas através de uma atmosfera simbólica, que é o oposto do que experimentam no real, em sua vida prática. Esse desejo, realizado através do consumo, nada mais é do que uma necessidade de inserção social através da aquisição de um bem, antes praticamente impossível. Veja bem, não se trata de pobreza. A população dessas comunidades, não vivem em extrema pobreza, pelo contrário, possuem televisores, aparelhos de microondas, máquinas de lavar e TV cabo. A maioria delas não paga impostos como conta de luz, água, IPTU, etc. Não cabe aqui questionar os meios de aquisição dessas mercadorias ou a renda familiar dessa comunidade e nem tampouco uma discussão sobre o domínio exercido pelo tráfico de drogas e a submissão imposta por ele nos morros. Não estamos tratando de uma carência de posses, mas sim da pobreza como sentimento subjetivo que pode ser preenchida por meio de um pequeno objeto de consumo chamado celular.

Dentro dos laboratórios de informática desse centro de formação pude observar mais claramente o comportamento das pessoas da comunidade (mais precisamente estudantes) de diferentes faixas etárias. Os adolescentes têm uma relação mais íntima com o celular, dominam seus recursos plenamente, trocam torpedos o tempo todo e, mesmo sendo proibido nas salas de aula, sempre existe um celular sobre a mesa, exibindo sua presença, o seu mais badalado toque, a sua mais transada capa, e conseqüentemente, atraindo olhares dos outros alunos, como se numa competição silenciosa de poder. Eles exibem suas pequenas maravilhas presas por dentro da calça jeans (as meninas usam mais esse apelo sensual que os meninos), agarradas às mochilas, presas por correntes coloridas em suas bolsas, enfim, os celulares ficam aparentes, expostos, como uma marca registrada, uma extensão de seus corpos. Quando os esquecem nas salas de aula voltam desesperados, correndo pelos corredores, o medo e a angústia estampados em seus olhos, o suor frio escorrendo pelas suas faces, exageradamente desesperados. Por muitas vezes tive a oportunidade de socorrê-los e entregar-lhes o seu aparelho, o que é uma experiência muito interessante. É como se estivesse lhes entregando a vida, a cor, o ar. Não, não é um discurso exagerado, embora possa parecer.

Não fica difícil de entender como a mídia absorve essa pobreza subjetiva, uma prova fiel de que no universo do consumo entram em circulação muito mais que bens materiais. O celular passou a ter uma identidade, digamos assim, foi humanizado: tem cor, nome, textura, aparência. As pessoas têm uma relação e uma intimidade com eles.
As outras pessoas que circulam no centro de formação, inclusive funcionários, de uma maneira geral, têm uma relação, aparentemente menos passional com o celular do que os adolescentes. Os aparelhos não ficam tão visíveis, nem tampouco exibidos sobre a mesa. Mas quase que diariamente me perguntam como enviar uma foto por torpedo, como mudar o som da campainha, como utilizar o menu de opções e, conseqüentemente, exibem toda a satisfação por ter um celular.

Todo um universo simbólico dentro de um pequeno aparelho. Quase impossível de acreditar, afirma a maioria dessas pessoas. É o consumo agindo como fator de sociabilidade, fazendo com que haja interação entre os indivíduos. Para se sentirem integradas, as pessoas utilizam o consumo como um código, algo assim que traduza as relações sociais.

Dentro da favela existe um padrão de consumo, principalmente, com relação à moda. Isso é mais evidenciado nos jovens, que usam tênis da marca mais famosa, camisetas com estampas “iradas”, bonés de grifes e o objeto mais desejado de todos: o celular. Esse padrão funciona como um marcador social emblemático, uma referência estética, que define identidades e diferenças características de cada comunidade.

[...] a escolha dos bens cria continuamente certos padrões de discriminação, superando ou reforçando outros. Os bens são, portanto, a parte visível da cultura. São arranjados em perspectivas e hierarquias que podem dar espaço para a variedade total de discriminações de que a mente humana é capaz. As perspectivas não são fixas, nem são aleatoriamente arranjadas como um caleidoscópio. Em última análise, suas estruturas são ancoradas nos propósitos sociais humanos. (Douglas e Isherwood)
As diferenças ficam menores, não existe mais aquele produto específico para uma determinada classe social. As opções de preço, modelo, formas de pagamento, permitem que qualquer pessoa adquira um bem de consumo (como um celular de última geração) seja ele morador da favela ou de bairros mais nobres. Mas não há como negar que o ato de consumir está intrinsecamente ligado a embates sociais, onde cada indivíduo julga e é julgado o tempo todo pelas suas escolhas.


Autor: Márcia Café (direitos reservados)